“O Princípio de Tudo... “

            Os escravos africanos que aportavam terras a do Novo Mundo, em pleno século XVII, estão na essência das origens do Jazz.

            De facto, é em 1619 que um barco de origem holandesa chegado a Jamestown, Virgínia, transporta o primeiro grupo de escravos proveniente do continente africano. É o início de um florescente "comércio" que haveria de estar na génese do conflito entre Norte e Sul no continente americano.

            Este “comércio” proliferou de tal maneira, que originou uma miscigenação de várias culturas e diversos costumes, consoante as variadíssimas regiões do continente africano, de onde provinham estes escravos.

            Longe das suas terras e das suas famílias, encontraram nos sons uma forma de união e comunicação muito própria, que lhes permitia escapar ao controlo dos seus “donos”.
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       Estas manifestações de canto eram bem vistas pelos “senhores brancos” como uma forma expedita de aumentar a produtividade dos escravos. Consistiam em breves trechos simples e ritmados que eram entoados repetidamente durante a jornada de trabalho. Aqui estão, sem dúvida, os princípios dos “blues”.

        Estes cantos rapidamente passaram dos campos para os templos, onde certamente não iriam os “bons cristãos sulistas”, tornando-se uma forma de comunhão de uma raça e, simultaneamente, uma forma de fé na reunião.

        Daqui nasce o género conhecido como “espiritual negro”. Evoluindo, torna-se com o tempo uma forma de espectáculo.

            O “espiritual negro” e o “blues” podem ser considerados os princípios básicos daquela forma musical soberba, a que hoje chamamos: Jazz!

            A síntese destas duas formas de expressão "negras", os "espirituais negros" e os "blues", dão-se com maior relevância em New Orleans. Podemos dizer que é nesta cidade que verdadeiramente nasce o Jazz.

            New Orleans era uma cidade portuária e, como tal, ponto de encontro de várias culturas, local propício à recepção de todas as influências exteriores. Era uma cidade onde proliferavam muitos estrangeiros e, portanto, desenvolveu de uma forma tão intensa a vida nocturna e de lazer, que rapidamente se tornou conhecida como a "cidade do prazer".
 

            É nos estabelecimentos desta vida nocturna que o próprio Jazz começa a dar os seus primeiros passos.

            Devido à procura incessante por parte dos seus proprietários de algo novo, original, descobrem um ritmo insinuante, praticado pelos escravos negros, que, não incomodando os "conceitos vigentes", acrescentam um movimento e uma energia rapidamente contagiantes.
 
            E são os "brancos" que primeiro exploram estes ritmos de uma forma comercial, organizando as primeiras bandas, no Sul esclavagista da América.

            Entretanto já estas sonoridades se tinham espalhado pelo Norte, começando aqui a aparecer as primeiras bandas de "negros", nomeadamente em New York e Chicago.

            Embora muitas bandas ostentassem a designação "jass" ou "jasz", rapidamente se impôs a expressão "jazz". Como constava da apresentação do primeiro registo musical da história do Jazz:
           "Escreva-se jass, jas, jaz ou jazz - nada pode prejudicar uma banda de jazz".
 

            Este registo, datado de 1917, pertence à "Original Dixieland Jazz Band" - uma orquestra de brancos seduzidos pela sonoridade dos escravos negros.

            É neste âmbito que aparece a primeira catalogação da história do Jazz, exactamente devida a este registo, que se reconhece hoje como o período "Dixieland".